72 - Espelho em frente ao espelho
Fevereiro se encaminha para o fim. Mês curto, mas especial. Tem três aniversários importantes: avó, pai e sobrinho! Eu sinto que março vai ser um mês bem legal. Tem evento de quadrinhos pra ir em NY (o MoCCA, que eu já fui ano passado) e talvez em New Haven (esse eu me inscrevi, passei e não consegui pagar a inscrição a tempo, perdi a mesa). Tem umas ilustrações bem legais pra fazer (prazo de boa, mas melhor adiantar).
Tem também a proposta de lançar uma coisa nova por aqui. Quase certo. Desenhei coisas novas bem legais pra esse projeto e vou te mostrar duas delas.
Participei da primeira reunião do Sertão, sarau organizado pelo querido Octavio Delucchi, violonista espetacular que conhecemos aqui no doutorado da Stony Brook. A ideia é reunir pessoas pra compartilhar vivências sobre arte. Foi bem legal encontrar gente novae falar de arte. A gente fica muito isolado, né? Foi bom falar e ouvir. Espero que o projeto cresça muito!
Na carta de hoje, evento em Campinas, evento no canal e reflexões sobre ser artista. Sei lá, mil coisas, bicho. Espero que curtam.
FEIRA DE QUADRINHOS EM CAMPINAS
Tá chegando o evento de quadrinhos mais gostoso de Campinas, a Feira Zink! Acontece todo ano na Biblioteca Municipal de Campinas. Esse ano, a já capitã maravilhosa do evento, Suze Dias, conta coma ajudado querido amigo e ex-aluno Fernando Gonçalo. A programação vai ser massa e, claro, vai ter mesa dos artistas e seus trabalhos.
Eu participo de looonge, coraçãozinho apertado, com alguns vídeos falando sobre o fazer dos quadrinhos.
Espero que o evento seja um sucesso de público e vendas. A cada ano a gente vê essa feira crescer e mais artistas participarem. Para Campinas, uma cidade onde notoriamente as coisas culturais são meio invisíveis, saber que esse evento continua é maravilhoso.
ESPELHO EM FRENTE AO ESPELHO
De vez em quando a gente encontra em vídeos, posts, newsletters livros e afins, coisas que ressoam de alguma forma dentro de nós. Aqui, uns parágrafos da newsletter do Marc Maron:
“Delusions are kind of necessary to have when you are younger and trying to do something ridiculous with your life. How else can you find the strength?
Now the delusions just reaffirm the insecurity. There is no purpose for them. It’s all twisted ego stifling real growth. I have to let them go to find peace, if possible.”
Traduzindo: “Delírios são necessários quando você é mais jovem e está tentando fazer algo ridículo com sua vida. De que outra forma você pode encontrar forças?
Hoje os delírios apenas reafirmam a insegurança. Não há propósito para eles. É tudo ego distorcido que sufoca o crescimento real. Tenho que deixá-los ir para encontrar a paz, se possível.”
Essa coisa de “delírio” é um tipo de acreditar muito em si. No começo, essa força vem de uma vontade imensa de ser bem sucedido na coisa, abastecida pelos feedbacks positivos, e se torna um perigo potencial lá na frente, quando se dá conta de que aquela “promessa” não se cumpre facilmente.
Interessante como as coisas vão se entrelaçando. E parece que acontecem meio que na hora certa. Eu assino várias newsletters, mas não leio tudo no dia que chegam, então acontece de acumular. E nessa última leva, alguns assuntos acabaram se entrelaçando, assim.
O Kyle Webster, um dos grandes da ilustração digital e criador dos brushes mais legais da Adobe, escreveu uns dias atrás sobre dois tipos de alunos de artes, e como ele, enquanto professor, lidava em aula. Resumindo, ambos confiam demais no próprio trabalho artístico. O primeiro é o aluno que não é tão bom quanto acha que é. O outro é bom e acha que isso é o suficiente Nos dois casos, podem acabar estagnados: acham que não precisam evoluir. E a gente sabe que sempre é preciso evoluir, especialmente como artista.
Fiquei pensando que tipo de aluno eu fui. É complicado, porque por um lado, eu tinha esses delírios de achar que eu já era bom o suficiente (imagina eu, com 14 anos e desenhando marromenos achando que poderia trabalhar pra Marvel e ficando chateado com feedbacks não favoráveis). Ao mesmo tempo, comparado à maioria dos colegas da época, eu era bem bom… Tudo tem que ser equilibrado.
Hoje, como profissional há tanto tempo, me sinto estagnado. A confiança que eu sempre tive no meu trabalho foi diminuindo enquanto a qualidade do meu trabalho melhorava. Doido, né? Eu não estudo, assim, estudar mesmo, há um tempo. Eu penso sempre em fazer cursos, aprender coisa nova, e sempre tem algo no caminho (falta tempo ou grana ou foco ou tesão ou tudo isso).
Ao mesmo tempo, eu não consigo conceber as questões que vivencio nos últimos anos desassociadas de tudo que acontece em torno, coisas que vieram e criaram erosão no que parecia sólido. Afetou expectativas, confiança, ânimo. Agora tá melhor (o mundo ficou bem melhor de 2022 pra cá, mas ao mesmo tempo, novos desafios chegaram).
Então, lá atrás, tinha muito delírio. Eu acho bom, porque me deu combustível para continuar produzindo, acreditando, sonhando. E isso me fez melhorar, aprender, crescer. E isso, por sua vez, me possibilitou ter um nível de técnica e devoção que sustentaram um trabalho honesto e apaixonado que me trouxe até aqui, com tanta coisa especial pra recordar. Ao mesmo tempo, o confiar demais bateu de frente várias vezes com a realidade das coisas… Entre elas, o fato de que eu não era bom o suficiente.
A questão é que você sempre vai ser incrível e péssimo ao mesmo tempo, dependendo de quem está dando o veredito. Alguém vai amar de verdade tudo que você faz e outro alguém vai achar você e suas coisas medíocres. E tudo bem. Se há crítica boa, que te ajuda a evoluir, é bom absorver e entender. Ninguém evolui só por elogio, né? E entender que você pode trabalhar de verdade pra se tornar bom o suficiente, mas só se aquele critério realmente fizer sentido para você.
Agora voltando ao Kyle Webster, deixo vocês com mais uma newsletter dele, onde ele fala sobre A NHACA (tradução minha de “the slump”, haha). Aquele período ruim onde tudo parece ruim, estamos estagnados, nada acontece, nada melhora, nada acontece feijoada. Essa momento chato pra caramba onde parece que nada funciona. Resuminho? A nhaca acaba. Uma hora, ela passa. E esse passar sempre é associado a um momento de evolução, grandes guinadas. E assim como a nhaca passa, a onda boa também, e isso é normal.
Tem que saber navegar as ondas boas sem confiar demais, e respeitar a si nos momentos complicados, mas nunca se deixando derrotar de verdade. Tem que ser movimento pra frente, sempre. E você, o que acha?
NARRATIVA DE QUADRINHOS TODO DIA
Durante essa semana, todo dia tem vídeo no canal. Esta é uma série de cortes de uma aula ao vivo que ministrei um tempo atrás. Vamos entender como funciona a condução do leitor pelos elementos de uma página de Quadrinhos, usando a análise de duas versões de uma mesma HQ de uma página: uma de 2005 e outra de 2019.
Essa HQ, intitulada “Razão”, fez parte da Pieces #2, lançada em 2009 e na republicação em “Parte de Mim”, em 2021, ela foi redesenhada e totalmente repensada e ressignificada, similar a algo do projeto atual, que você conhecerá na próxima carta e futuros vídeos.
A aula de hoje estreia às 19h, no meu canal no Youtube e os episódios seguintes continuam diariamente no mesmo horário. Mas como você é especial, compartilho o link para TODAS AS AULAS agora mesmo! Espero que curta!
Aula 1 -
Aula 2 - Narrativa Visual nas HQs
Aula 5 - Melhor forma de contar a história
UPDATES DE PROJETOS
Em vez de atualizar um projeto anterior, que tal colocar mais um na fila? PROJETO SUCKER. Semana passada, tive uma reunião com um roteirista daqui dos EUA para falar de um projetinho. Será uma HQ one-shot (ou seja, uma edição pequena fechada, de 20 a 40 páginas), com uma pegada entre o drama cotidiano e o terror. Ainda estamos negociando as coisas. O roteiro, a princípio, não é nada revolucionário mas é bem dentro das minhas capacidades e seria mais uma publicação aqui fora para o catálogo.
PROJETO AMEAGARI. Na última carta, falei de um projeto reativado que envolvia redesenhar - e repensar - uma história antiga. Essa semana estou trabalhando na edição de fato, porque todo o material de HQs está pronto, assim como capa e quarta capa. Estou muito orgulhoso do resultado. Falta uns ajustes e umas decisões editoriais. Ou seja, a parte mais criativa está quase acabando e a parte mais cerebral já começou. Deve sair nos próximos meses, em inglês, por aqui, e também em ebook em todo lugar, pela minha loja online. “Ameagari” não é o nome da revista, mas de uma das HQs (que, no final das contas, pode não entrar no mix). Na próxima carta vou revelar tudo!
Enquanto isso, fique com duas artes novas desse projeto:
(Deu pra ver que tem a ver com chuva mesmo, né?)
Além disso, estou estudando a possibilidade de disponibilizar alguns títulos pelo KDP, da Amazon, tanto em e-book quanto impresso. Aqui nos EUA, pelo menos, a possibilidade de vender por impressão sob demanda existe e é bem interessante, visto que eu não consigo ir para muitos eventos presenciais ou enviar para muitas lojas físicas. Tem umas questões burocráticas para entender. Se você usa essa forma de publicação e tem dicas, sou todo ouvidos.
Enquanto isso, minha loja online continua tendo apenas os livros em formato digital. Estou pensando em reativar os livros físicos, mas preciso ter certeza de que tem como resolver a questão dos envios.