73 - Depois da Chuva
Essa carta é muito especial e traz umas novidades que estou guardando faz tempo para te contar! O ponto focal é minha nova publicação aqui nos EUA, mas também falo sobre meu último sketchbook e um herói na chuva. Pra quem gosta de desenho, vai ter um monte, a maioria em primeira mão.
O dia 25 foi o último dia para inscrição na Área dos Artistas do FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, meu evento favorito, onde estive presente em todas as edições desde 2009. Não me inscrevi. Entre questões de visto, grana pra viagem pro Brasil, planejamentos mil e tudo mais, percebi que não ia dar certo. Estou bem chateado, é uma pena. O FIQ é legal demais e minha vivência nos EUA dificulta, quando não impede, estar presente nos eventos no Brasil. Vai ficar pro próximo, e prometo levar coisa nova pra mostrar.
Por aqui, o frio deu uma amenizada e tivemos dias bonitos e com muito sol. Um vazamento no andar de cima causou um transtorno no nosso quarto, com goteiras e placas do teto caindo, baita transtorno, mas já resolvido. A vida real é doideira.
Nossa newsletter cresceu muito na última semana: convidei o pessoal que se cadastrou no meu site e loja para conhecer a carta, e tá todo mundo aqui ainda. Espero que curtam esse material, mas fiquem à vontade para desassinar quando quiserem. Se você conhece alguém que goste desse tipo de conteúdo, divulgue!
Ando desenhando bastante, muito mais do que nos meses anteriores e isso tem me feito muito bem. Ando escrevendo, e pretendo escrever mais ainda. Tenho pensado, refletido muito, sobre muita coisa. E no meio de tudo isso, venho encontrando caminhos. Mas chega de filosofia, vamos ao que interessa (que também é cheio das filosofias, mas vá lá).
AMEAGARI
“Ameagari” é uma palavra japonesa que significa “depois da chuva”. Eu a encontrei num dos estágios finais da edição do meu novo quadrinho, assim como aconteceu com o “Kintsugi” de Parte de Mim. Caiu como uma luva para o que eu precisava, porque a chuva terminou. Bom, pelo menos o livro sobre chuva terminou.
Teardrop é o nome do meu novo lançamento. O subtítulo, “Sad Stories in the Rain” já deixa o tom e a proposta da publicação: são HQs curtas, meio tristes e todas sobre chuva, seja ela real ou metafórica. A seguir, a capa, em primeiríssima mão!
Uma das primeiras imagens que veio à mente quando comecei a pensar nessa edição, ano passado, foi dessa moça debaixo de uma baita chuva, mas com um sol gostoso dentro do guarda-chuva. A capa já dá um tom muito mais amigável do que a série costumava ter lá o começo.
A ideia da capa é mais ou menos em torno de que, mesmo com toda a chuva lá fora, ainda dá pra ter um solzinho quentinho por dentro.
Como fiz ano passado com Vincent in Pieces, essa é uma republicação de material da série Pieces, que já tinha saído antes em outros lugares, mas que aqui, nos EUA, é totalmente inédito.
Bom, uma parte dela não é. Mas meio que é… Se bem que, penando de novo, é inédita no Brasil também. Que confuso!
Explico: entre as HQs que estão em Teardrop, está “A Chuva”, história de 8 páginas, uma das minhas primeiras e mais queridas da série. E uma antologia de HQs sobre chuva não poderia deixar de ter, bem, “A Chuva”. Só que tinha um problema. Um problemão.
“A Chuva” é muito, muito velha. Eu a fiz em 2006. Naquela época, as ideias e sentimentos estavam no lugar, mas a técnica nem tanto. Olha, eu tenho muito afeto por essa HQ, mas aprendi com meus mestres que afeto não significa qualidade. Olhando objetivamente, tem muito problema nela, e eu me recuso a publicar em 2024 uma HQ de 2006 que parece, em comparação com as outras, ter sido desenhada por outra pessoa. Porque, bom, ela foi.
A página 2, que agora é a 3.
O Mario Cau de 2006 é um cara interessante, mas eu não sou mais ele. Então, a primeira proposta foi atualizar o desenho, ou seja, redesenhar a HQ toda com meu estilo atual. Todo o resto seria mantido. Mas sabe, né, artista é fogo. Não tinha como eu me reconectar com essa história sem mergulhar em tudo que envolve sua existência. Então, comecei a questionar algumas escolhas. Mudar o ângulo de um quadro aqui, inverter a narrativa ali, reposicionar esses quadrinhos pra levar o olhar pra um caminho mais interessante… E se eu mudar a ordem de algumas páginas? E se eu colocar uma cena nova nesse trecho? E se eu mudar um pouco o texto aqui… Quando eu vi, já era meio que uma nova HQ. A nova “Chuva” é a mesma não sendo a mesma, porque é mais nova e melhor esteticamente e narrativamente e conta uma história mais interessante e condizente comigo hoje. Agora sim ela pode fazer parte dessa edição.
A nova página 3, que antes era a 2.
Apesar de tudo, eu ainda gosto muito das linhas expressivas, rústicas, quase agressivas do pincel da versão antiga. Cada época com sua expressão. Falando em expressão, aqui vai o rascunho do meu autorretrato que sai nessa publicação:
Nesse aqui, a chuva sai de dentro do guarda-chuva, mas fora dele tá um solzão, pra brincar com a ideia da capa. Ah, na versão final “eu” estou sorrindo. :)
Teardrop deve ir pra gráfica em março, em tiragem pequena. Também deve entrar na Amazon, pelo KDP, em impressão sob demanda onde for possível e digital em qualquer lugar, ainda em inglês. Infelizmente no Brasil não tem a impressão sob demanda, então quem quiser uma cópia precisa me avisar e aguardar minha próxima ida ao Brasil… Quem sabe na CCXP?
DA PRANCHETA
No dia 28 de fevereiro terminei mais um sketchbook, de número 63, intitulado “…É Aqui Que Começa?”. Por causa do adesivo que colei logo na folha título, posso até dizer que o subtítulo é “Felice”, o que parece apropriado, poético e auspicioso (adoro essa palavra). Esse caderno é interessante.
Da marca Strathmore, tem 160 páginas e pelos meus cálculos, apenas 1/4 dele foi feito em 2023 (considerando que comecei a desenhar no dia 4, logo depois do aniversário da Monica). O primeiro desenho de 2024 já foi na praia do Engenho, onde passei um fim de semana com a Mo e meu sogro. Não por coincidência, também foi o primeiro desenho feito no Brasil, no dia 6 de janeiro.
Se pensar na timeline,, chegamos no Brasil no dia 24 de dezembro e eu só fui desenhar no dia 6. Claro, muitas festas e gente querida para ver, sobrinho pra curtir, compromissos pra cumprir, cansaço, por aí vai.
Aqui vão algumas páginas desse caderno para você:
DA PRANCHETA 2
Tenho surfado uma boa onda de produção nos últimos dias. Com a produção de Teardrop, a nova/velha HQ, e as novas ilustrações de capa e internas, mais um esforço consciente para pegar o caderno e desenhar pra mim, é raro o dia em que eu não rabisco nada. E isso é bom demais.
(A Teoria do Trem, que é mais ou menos sobre vencer a inércia, vai por aí)
Dia 29, então, além de ter desenhado umas páginas e terminado o caderno 63, aproveitei o embalo para recuperar um rascunho que tinha feito no caderno anterior, com o Homem-Aranha emburrado debaixo de chuva (hey, e não é que a chuva continua como tema por aqui?). Eu nem sabia direito se ia fazer qualquer coisa, mas comecei a arte-final e quando vi, tinha finalizado as cores. Pode ser que eu mexa em alguma coisa das cores, mas por enquanto o resultado é esse:
E o rascunho inicial (sei lá, tem uma coisa na expressão da máscara que bateu certinho no ponto e eu não quis mudar, então, sim, essa é uma versão onde a máscara responde a expressões faciais):
Esse desenho demorou porque da última vez que tentei começar a finalizar, eu não sabia direito como proceder. Quero dizer, eu tinha uma ideia clara do que queria no cenário, mas não achava meio de fazer a perspectiva funcionar, e não queria deixar o fundo vazio. Dessa vez, a solução simplesmente apareceu enquanto eu estava no processo. Isso me lembra das coisas que o Mutarelli falou no curso. Faz todo sentido e eu sempre soube, mas às vezes a gente esquece porque fica muito tempo longe.
Vou fazer meu melhor para me manter por perto e em movimento.