Quanto mais distante de algo, seja por tempo ou por proximidade, mais cresce a desconexão. Periga a gente esmaecer as linhas e laços que mantém a conexão, até que ela se perde, se some, se rompe. Por isso é importante se manter por perto. É quase como subir para a superfície para pegar ar. Você pode até aguentar muito tempo debaixo d’água (quanto mais treina, mais aguenta), mas ou você volta ou você afoga.
Quando passo muito tempo sem escrever, sem desenhar, sem postar, sem ensinar, os laços esmaecem e eu não posso permitir isso acontecer, porque a inércia é tentadora uma vez que você esta dentro dela, nunca quando se está fora. O movimento, sendo contínuo (mas não necessariamente obsessivo ou ansioso) é extremamente importante. O contato é imprescindível.
Faz tempo que não escrevo a newsletter. Nunca é bem por falta de assunto, porque por mais que eu ache que “os dias estão muito parecidos”, sempre tem algo interessante pra compartilhar. Estou trabalhando muito, também, claro, sempre. Tem muita coisa que não dá pra mostrar ainda, mas tem coisas que posso e quero mostrar e “se perdem” na fluidez da correnteza de tudo.
Entre esquecer e não ter vontade de postar, as redes sociais ficam meio vazias (até pra ver as coisas dos outros tem sido meio sem graça, e acho bom se desvencilhar do doomscrolling). O canal não anda tendo atualizações porque ou não ando gravando nada novo ou não dá pra editar o que tem gravado. Apesar disso, o número dos inscritos no Youtube continua crescendo vagarosamente, mas estável.
Abril vai ser / está sendo um mês lotado, e até semana passada eu estava naquela onda de ansiedade pelo tanto de coisas. Aí, a gente vê os dias passarem e as coisas sendo feitas, e mais ainda, percebe que tem coisas sobre as quais não adianta ficar queimando a cabeça. Falei disso hoje mesmo com um grande amigo. É preciso achar o equilíbrio entre as coisas para não ser arrastado pela correnteza, especialmente não pirar com o que vem bem depois, especialmente não pirar com o que não é nossa responsabilidade. Uma coisa de cada vez, sempre.
ARTE, INSPIRAÇÃO E TANTA COISA
Ultimamente, em meio a tanta coisa e trabalhos não necessariamente autorais, ainda mais depois da experiência boa que foi produzir as coisas pro Teardrop, eu venho pensando muito sobre arte, meu trabalho, inspiração, ideias, motivação, etc. Reuni algumas citações bem legais que me fazem refletir mesmo sem chegar a um lugar bem definido. Quero compartilhar com você, mas também acho que preciso processar melhor as coisas.
Por enquanto, pra não ficar no vazio, vai uma citação do Caetano Galindo, do livro “Latim em Pó”. Não tem nada a ver com arte ou as coisas que eu faço: é um livro que fala da construção do português como idioma e é bem, bem legal. Mas achei que essa frase ressoa muito com o momento, essa busca por significados e por caminhos para meu desenho. Aí vai:
“Às vezes, não se trata de usar os aparelhos que temos para enxergar mais longe, e sim de perceber que é preciso trocar de aparelhos para ver o que já estava diante dos nosso olhos”.
O desenho é uma forma de ver o mundo. Pode ser que eu precise rever meus aparelhos para encontrar novas formas de ver e, a partir daí, achar novas formas de expressar.
ABRIL INFINITO
Agenda do mês:
Dia 3: Show muito especial do Caetano Veloso no Brookyln!
Dia 5: Segunda reunião do SERTÃO, grupo de conversa, trocas, sarau e eventos criado pelo querido Octavio Deluchi (gigante do violão que faz doutorado aqui na SBU). A gente se reúne, fala de arte, de vida, de inspiração, de caminhos e tudo mais. Assine a newsletter do SERTÃO se quiser ficar por dentro!
Dia 6: Vernissage da exposição retrospectiva do Terence Netter, um artista bem conceituado aqui da região, na Gallery North.
Dia 8: Participo do Desenho Etílico. O tema é X-MEN 97. Como ficar de fora dessa? Aliás, a série animada tá bem legal.
Dia 13: Participo do Brooklyn Independente Comics Showcase. Vai ser o lançamento oficial do Teardrop!
Dia 20: Participo do BrookCon, evento organizado por alunos da Stony Brook University. Vou ter a mesa com os livros e também darei uma palestra sobre quadrinhos brasileiros!
Dia 21: ArtCrawl em Farmingdale! Participei desse evento de arte ao ar livre nas ruas de Farmingdale ano passado. Foi bem legal, então vamos de novo!
Dia 25: Participar do Critique Group na Gallery North, onde artistas da região se reunem para conversar e trocar.
Dia 27: Show do Black Crowes em NY!
Dia 30: Palestra sobre Quadrinhos Brasileiros na disciplina da Monica, “Latin America Today”, para fechar o semestre. Ano passado dei essa aula para 20 e poucos alunos, e esse ano a turma de cerca de 100. Vai ser massa. Dá pra acompanhar o trabalho da Mo no Instagram do Leitorado Stony Brook.
Ufa! É isso, eu acho.
QUADRINHOS!
Teardrop, meu novo quadrinho em inglês, mal chegou da gráfica e já foi pra nova tiragem! Nesta primeira, foram 35 exemplares. Não é que eu já vendi ou dei todos, mas como esse mês tem muitos eventos, achei prudente já rodar mais. Vincent também ganhou uma terceira tiragem. Mês que vem eu falo da contabilidade! Torce aí pra vender tudo!
Vincent in Pieces, aliás, entrou como parte do indie bundle (coleção de seis títulos de HQ independente em formato digital) do Kickstarter (financiamento coletivo) de “Slice of Life - Season One”, quadrinho de Kat Calamia e Phil Falco. O projeto deles foi um sucesso e estou muito feliz que muita gente vai ter a oportunidade de ler minha HQ.
Uma HQ minha apareceu no Silent Manga Audition e eu não mereço. O SMA é uma competição japonesa mas aberta a inscrições do mundo todo, de quadrinhos mudos dentro de temas pré-definidos. Eu já participei uma vez com um capítulo de Morphine (o 11º, Delírio, uma viagem de sonhos e pesadelo), e dessa vez, assim como. da primeira, foi mais adaptar uma HQ existente do que fazer uma coisa nova. Por esse motivo e por eu não ter feito essas histórias pensando em “ser mangá” ou especificamente pro concurso, acho que não mereço mesmo. Mas é bem legal estar lá. Você pode acompanhar e inscrever também, é só ficar de olho. Dá pra ler a minha aqui!
E desenho novo, tem?
Tem: