Finalmente, depois de um hiato considerável e justificável, a carta está de volta! Muita coisa anda acontecendo. Muita coisa boa! Mudar é bom, apesar de eu ser geralmente resistente. Espero que esteja tudo bem aí do seu lado! Vamos às novidades?
MUDANÇAS
Ch-ch-ch-CHANGES! (Turn and face the strange)
David Bowie, “Changes”
Estou escrevendo essa carta da mesma mesa de trabalho, mas ela não está na mesma sala. Se antes eu escrevia de um quarto mal iluminado, com uma janelinha estreita onde entrava pouca ou nenhuma luz do Sol, hoje escrevo olhando uma sala ampla com uma porta de vidro que dá pra uma varandinha linda e uma janela enorme por onde entra muito Sol. As paredes, que lá eram azuis, aqui são um tom de bege/pêssego, mais claro, quente e vivo. Enquanto lá eu via 90% dos móveis e objetos sendo da casa, anteriores a nós e velhos e meio feios, aqui eu vejo os móveis que a gente conseguiu ter, tudo mais nosso, em termos de possuir e de identidade. No quarto, antes com paredes azuis, teto coberto de placas bregas e com a mesma janelinha estreita, agora temos espaço, um colchão muito melhor, e claro, luz de verdade (a mesa de trabalho da Mo ficou está lá também, e se eu olhar pra esquerda eu a vejo lá. Oi, Mo!). E pra coroar, se antes a gente andava a pé no acostamento de uma estrada e precisava de Uber pra quase tudo, hoje temos nosso carrinho estacionado ali na frente e toda a autonomia que ele providencia.
Pois é. Eu e a Monica mudamos de casa!
Antes.
Agora.
Depois de meses de procura, sem carro e com orçamento apertado, e de encarar uma tempestade com enchente e muito trabalho pra limpar tudo (falei disso na última edição da newsletter), finalmente encontramos nosso novo cantinho. É bem menor e não era mobiliado (os eletrodomésticos, ainda bem, já tinha), mas é numa vizinhança gracinha, tranquila e com muito céu. Tem um monte de peças que compõe essa experiência, mas eu não vou entrarem detalhes. Essa carta tem muito espaço para falar da vida real que envolve a vida do artista, e eu temo que os meus momentos mais melancólicos aparecem mais aqui do que os felizes. Essa carta não é meu diário, não é minha terapia, mas eu acredito que entender mais da vida de artistas é interessante pra entender a obra deles. Enfim, aqui e ali, as histórias vão sendo contadas.
Estamos na casa nova faz duas semanas, bem adaptados e, agora com carro, tudo parece funcionar diferente e melhor. Minha sensação é de que depois de morar nos EUA por quase 2 anos, é agora que a experiência vai começar. Parece que até aqui, era um stand by infinito. Claro, quando a gente achava que morar aqui ia terminar em agosto de 2024, era cômodo e meio lógico não mudar de casa e não comprar um carro, com todos os processos necessários pra isso. Mas agora que o programado Leitorado foi estendido para agosto de 2026, faz todo sentido a revolução. Não que antes fosse super ruim, mas não era bom de verdade. Agora, é muito melhor. Agora, é nosso mesmo.
Os rolês estão passando e sendo concluídos, etapas necessárias pra depois ter paz e autonomia. Uma coisa de cada vez, como sempre (até porque o trabalho continua e é muito). Lá fora, a paisagem já vai mudando de verão pra outono, o clima está esfriando e as árvores, trocando de cor. Vai ser lindo.
OCUPANDO O ESPAÇO NEGATIVO (DE NOVO!)
Semana passada saiu a lista dos 10 finalistas do concurso de HQs curtas promovido pela Negative Space esse ano, e mais uma vez, estou entre eles! Esse concurso é muito interessante e uma boa porta de entrada para a cena independente dos Tats Nitz. A
Ano passado, participei e também fui finalista. As 10 HQs selecionadas são publicadas em uma antologia digital gratuita, que você pode baixar e ler AQUI.
A HQ que enviei esse ano é uma velha conhecida da série Pieces. Originalmente chamada “A Distância”, ela foi rebatizada como “Saudade” para o concurso. Achei válido para marcar que sou brasileiro e evidenciar essa palavra bonita que a gente meio que tem como única. É uma história sobre um casal de meninas que vivem um relacionamento à distância. Foi inspirada plea época que a Monica veio pros EUA como bolsista Fulbright em 2012, 4 meses depois da gente começar nosso relacionamento. Foi difícil mas sobrevivemos. Foi bem legal também. No Brasil, foi publicada em “Partes do Todo”, pela Jupati Books, em 2016.
Esse concurso, um dos vários que eles promovem todo ano, é aberto pra todes nas precisa pagar a inscrição. (Aproveitando, o link para a edição 2023 é ESSE). A edição desse ano teve Emma Kim Rust em primeiro lugar!
PIECES NA SALA DE AULA
Este ano, duas redes de colégios muito importantes adotaram meu livro “Parte de Mim” como material paradidático! Fiquei muito feliz com a oportunidade de ter um projeto tão importante na minha carreira sendo lido e discutido pelos alunos. Essa série, Pieces, me ensinou a ser quadrinista, a escrever e desenhar o que estava no meu coração e na minha mente, a explorar possibilidades narrativas, estilísticas e editoriais e me lançou pro mundo dos quadrinhos brasileiros.
Entre as atividades que os alunos tiveram com o livro estavam conversas comigo (via internet, onde respondi perguntas e falei do processo criativo), elaboração de roteiros e HQs seguindo a temática da série e até produção de curtas! O motivo do Kintsugi, que embasa a filosofia da série, foi amplamente aplicado por eles em todos os processos. Abaixo vão alguns registros:
Sou muito grato a todos os envolvidos nesse projeto! Que oportunidade maravilhosa. Espero repetir mais vezes!
TCHAU, VERÃO
No fim de semana passado, demos adeus pro verão aqui no hemisfério norte. Já sinto saudade do calor enquanto a temperatura vai gradualmente baixando. Mas fico bem empolgado vendo as folhas das árvores mudando de cor pra minha estação favorita. O outono aqui realmente é lindo.
A galera do Colored Colors fez um festival em NY, chamado Goodbye Summer, um rolê bem legal com música ao vivo e artistas e artesãos vendendo seus trabalhos. Estive lá no domingo, 22, com a Monica e foi um dia lindo!
(Quando eu paro pra pensar que eu sou um artista independente, quadrinista, brasileiro e estou participando de eventos e publicando nos EUA, cara, que experiência doida)
DA MESA DE DESENHO
Esse é especial e meio agridoce. Fiz essa arte de presente para a Verônica e o Neto, um casal de brasileiros que conhecemos aqui nos EUA e se tornaram grandes amigos. Só que essa arte é meio agridoce porque foi um presente de despedida: eles decidiram voltar pro Brasil e continuar a jornada por lá. Ficamos tristes por “perdermos” amigos tão queridos, mas desejamos tudo de melhor pra eles no Brasil! Eles nos ajudaram muito, especialmente nessa mudança. O carro que compramos era deles, também. Vamos manter contato sempre, claro, mas fica a saudade antecipada.