Essa é daquelas cartas de fim de ano. Faz tempo que não escrevo, mas você sabe como dezembro foi um mês intenso: não so eu fui ao Brasil pra CCXP - e as experiências de vida real fora do evento - como também tem as festas, os preparativos, os passeios e… as férias! Sim, rolou descanso e passeio. A gente precisava.
Escrevo aqui da minha mesa de trabalho, vendo a Monica na mesa da cozinha montando seu quebra-cabeça 3D de piano que é uma caixinha de música, a rua silenciosa pós-chuva e frio. Do meu lado, o caderno de Projetos 2023-24, onde anoto ideias, relatórios de mentorias, planos e orçamentos, está completo e fechado. O caderno de Projetos 2025 está do lado, esperando ser iniciado.
Ontem, arrumamos as estantes de livros porque era bom dar uma limpada mas principalmente pra resgatar a cabeça do meu boneco do Homem-Aranha que caiu no canyon do aquecedor. Desculpa perfeita pra tentar tirar o máximo de pó desse submundo cyberpunk que é o piso debaixo da calefação. E remexer em tudo isso me fez ver todos meus materiais de desenho, e uma das resoluções de ano novo é usá-los mais.
Às vezes, a gente precisa tirar tudo do lugar, limpar e reorganizar. Fazer isso com o que é físico ajuda a sintonizar a mente para organizar lá dentro. Sentir vontade de fazer coisas com o que há aqui e ativar a vontade de mais, porque isso gera ímpeto.
Minha missão/meta desse ano foi entender meu querer, meu desejo, sem o looping infinito de racionalizar tudo em um jogo de lógica e expectativas que no fim das contas, não deixa espaço pro ddesejo. E conseguir com isso voltar a confiar mais no meu instinto, também. Ele geralmente tá certo.
Quais são seus planos e metas pro ano que vem? Meu conselho: É bom querer bastante coisas, porque dá aquele ânimo extra, e é bom lembrar que a gente tem uma quantidade limitada de dias, horas e energia, então tudo bem se não der pra fazer tudo, mas dá pra fazer muita coisa mesmo assim.
No fim das contas, é sempre sobre encontrar equilíbrio.
CCXP - FOI ÉPICO?
Eita, que foi. Sempre é muita coisa. Esse ano foi muita coisa. Algumas eu esperava, outras não. Algumas coisas foram frustrantes e outras, grandes surpresas.
Então, vamos a alguns tópicos:
As vendas foram muito boas e eu tive lucro! Porém, esse lucro só funciona se eu considerar que minha mesa foi paga pela Iron Studios (só a passagem pra ir pro Brasil é uma paulada)…
Interessante e estranho, esse ano eu vendi muito menos prints do que esperado. Por outro lado, teve muito interesse nos quadrinhos!
Aliás, esgotei TUDO que tinha na mesa, com a exceção dos prints e do Parte de Mim, que tinha bastante, e de algumas artes originais.
Muita gente descobriu meu trabalho esse ano, o que é uma coisa linda desses eventos. Ao mesmo tempo, muita gente querida que me acompanha passou lá pra dar um abraço! Meu carinho e gratidão a todos!
Rever meus amigos e colegas artistas é sempre ótimo. Eu sinto muita falta de estar imerso numa comunidade, e os quadrinhos brasileiros são a melhor. Muita gente perguntou de mim, dos EUA, da Monica… Especialmente meu parceirão de Monstruário, Lucas Oda, que ficou pouco no evento porque o Chico nasceu!
Os pins, uma aposta no meu instinto, saíram bem e muita gente curtiu a ideia.
Achei o evento imenso e bem produzido, as coisas e estandes eram bonitos e tudo mais, mas achei tudo meio vazio, seco, sem mojo. Tinha muitas empresas e marcas, mas muito pouco de geek/nerd…
O Artist Alley ficou mais uma vez mais pra lateral do evento e não no centro, o que me incomoda um pouco. Esse layout novo não parece ser muito vantajoso pra nós. Minha mesa estava no canto, na primeira posição da fila logo de cara com o fluxo do público, então não posso reclamar.
Diividi mesa com o Rapha Pinheiro, e isso rendeu mais do que bons momentos e a parceria já estabelecida no Residiuum. Aguarde que vem coisa legal aí.
Residiuum vendeu bem pra caramba, muita gente interessada. E foi ótimo ver meus parceiros PR Soliver e CyberTeyú, talentosísssimos, recebendo o carinho dos leitores e tendo a primeira experiência como autores em um evento desses.
Saio do evento, como sempre, exausto e quase doente, mas muito renovado e inspirado. A vontade de mergulhar nos quadrinhos, especialmente projetos meus, é imensa e eu senti muita falta dessa energia.
RETROSPECTIVA 2024!
É muito comum a gente fazer uma reflexão sobre o ano que se passou e o que queremos do ano que vai chegar. Na real, tirando toda a magia estabelecida por datas e celebrações, é só mais um dia virando noite virando dia. O que torna a virada de ano (e o Natal, aproveitando a deixa) é o que nós criamos de significados, os afetos e narrativas, as relações que estabelecemos. Já que temos esse “final de ciclo”, é um ótimo momento pra refletir, processar, estabelecer metas e saber o que deixar pra trás e o que levar pra frente.
Normalmente, em nossa cultura, pensamos no passado como algo que está atrás de nós. Já passou, e o caminho em frente é o futuro. É um jeito de entender o tempo linearmente e nosso avanço nele é andando pra frente (ou, olhando de lado, da esquerda pra direita - por mais que eu ache que politicamente devia ser o contrário, hehe). Em algumas culturas, porém, o futuro está pra trás e o passado à frente, porque o que está à frente é visível e o que está atrás, não. Não sabemos o que vem pela frente como o futuro vai ser, porque não podemos vê-lo. Ele só acontece quando acontece, e aí já é presente. O passado, porém, é algo que está claramente visível e, por isso, podemos analisar, refletir, sentir e entender.
Sobre 2025, eu sei de coisas que vão acontecer, mas não sei como. Algumas, tenho ideia de quando, mas não de como. Isso. costuma me deixar ansioso, especialmente quando chega perto e tenho trabalhado pra gerenciar melhor. Não saber me deixa assim, mas é também parte da graça das coisas. Ao mesmo tempo, tem muito mais coisas que eu não sei como, se, quando, onde vão acontecer. É também parte da magia de transformar o futuro em presente e vivê-lo da melhor forma. É isso que estou tentando fazer: viver o momento, sem me perder pensando demais em coisas que eu não tenho controle ou posso prever).
A vida é bem legal, no geral, mesmo com as coisas ruins.
No meu caderno de Projetos 2023-24, fiz uma lista das grandes coisas desse ano. Que ano intenso, imenso, especial! Não vou colocar a lista completa aqui, mas vale dizer que trabalhei muito em quadrinhos, mas a maioria foi como arte-finalista. Fiz capas de livros especiais com contos de crianças. Continuei as mentorias e sinto que fiz um bom papel orientando os projetos.
Viajamos muito! Seja para eventos de quadrinhos por aqui, seja para turismo… Seja aqui perto, ou na infinita NY, ou até mesmo no deserto do Arizona com suas formações rochosas inacreditáveis…
Vimos shows! Foo Fighters, João Bosco, Black Crowes, Jon Batiste, o Ballet de NY… Exposições, comida boa e muitos seriados no conforto do nosso sofá.
Enfrentamos uma enchente, burocracias e perrengues, mas mudamos de casa e agora temos de fato um lar aqui. Temos um carro e carteira de motorista, o que nos dá uma autonomia que você nem imagina.
No Brasil, pudemos estar com a família e amigos. Em especial, sinceramente, brincar com meu sobrinho e ver minha avó são destaques. A gente queria muito ver mais gente, mas também aprendemos a fazer o que podemos dentro das condições, e que é mais importante ter momentos especiais e significativos do que ter uma correria enorme. Tudo tem seu tempo e ritmo e nós também. Entender isso é amadurecer e ajuda a estabelecer limites onde geralmente era tudo maleável.
Crescemos muito. Estamos melhores, mais fortes, mais em paz. Somos mais nós mesmos e estar aqui é um grande motivo disso. Aprendemos muito e estamos animados com o ano que vem aí.
Então, desde já, Feliz Natal (atrasado) e Feliz Ano Novo! Que 2025 seja um ano maravilhoso e cheio de coisas boas para você e todos que você quer bem. Nos vemos em breve!
MULHERES GUERREIRAS E GUERREIRES TRANS
Recentemente, um livro muito especial foi publicado por aqui. Trata-se de “Warrior Women and Trans Warriors - Performing Masculinities in Twentieth-Century Latin American Literature”, da Profa. Dra. Carolina Castellanos. E esse livro é especial por três motivos!
1, a Carolina é uma amiga muito querida. Ela é professora de português na Dickinson College, em Carlisle, Pensilvânia, com quem a Monica trabalhou quando foi bolsista Fulbrighter em 2012 e 13.
2, O livro trata de personagens femininos e trans na literatura latino-americana e um desses personagens é Diadorim, de “Grande Sertão: Veredas”, um dos nossos maiores clássicos.
3, porque eu fiz a ilustração da capa do livro, com Diadorim.
Você pode baixar o livro gratuitamente e ler em formato digital no site da Purdue University Press!
O FIM DA SECA
Esse texto, se não me engano, foi indicação da Monica. É da piauí, e fala sobre como o poeta Carlito Azevedo passou por uma crise criativa de anos e conseguiu, através da psicanálise, retomar sua produção. Vale muito a leitura, especialmente se você, assim como eu, passou ou passa por crises semelhantes.
https://piaui.folha.uol.com.br/o-fim-da-seca/
E é só por hoje. Boas festas!
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA