Oi! Essa edição da Newsletter vem com o começo do relato da produção do meu novo projeto. Comecei a escrever sobre as etapas. para organizar minhas ideias e buscar soluções, e acabei gostando da ideia. Acho interessante aprender sobre como os projetos são construídos e essa carta tem como objetivo te mostrar como as coisas acontecem do lado de cá. Espero que curta a série. Vai durar um tempinho e as novidades serão colocadas aqui, para você, em primeira mão. Sem mais, vamos em frente.
DIÁRIO DA AUSÊNCIA - Parte 1
Um relato editorial e artístico da produção de uma publicação
Primeiros estudos para capa, 2023-24.
SOBRE COMEÇAR DO COMEÇO
Tudo começa do campo abstrato das ideias
Esse diário vai relatar as etapas da produção de uma nova (nova?) publicação, independente, nos Estados Unidos. Decidi escrever sobre tudo isso porque autopublicação é um processo que já fiz muitas vezes no Brasil e pelo menos duas nos EUA e acredito que seja interessante como um olhar mais intimista em um processo criativo e editorial que pode trazer informação, reflexão, direcionamento e incentivo para outros. Além disso, ficou impossível não refletir sobre as questões que envolvem republicar histórias mais antigas. Essa, então, é a história real da publicação do meu novo livro: “ABSENCE - A Collection of Missing Pieces”.
Mas antes (mas anteeesssss):
Desde que me mudei para os EUA, vivo um tipo de dilema profissional (que se mescla com artístico no sentido mais poético da coisa, mas deixa isso pra outro texto): o que fazer agora? Qual a melhor forma de direcionar minha carreira e investir energia? Com 20 anos de carreira no Brasil, muitos títulos publicados, prêmios, bons relacionamentos e algumas certezas, estou em território novo e inexplorado, onde ninguém me conhecia (já faz dois anos e eu já cresci um pouquinho aqui).
Por um lado, estou longe o suficiente do Brasil para não conseguir manter a carreira da mesma forma de antes, mas não quero desaparecer por alguns anos. Enquanto isso, aqui, sou um desconhecido que tem muita experiência e muita coisa já pra fazer, mas não queria desperdiçar a oportunidade de apresentar meu trabalho para um novo público e criar uma presença em outra cena.
Ao voltar definitivamente pro Brasil, não sei quando (não sei se, mas isso é outro desenrolar infinito de possibilidades), não quero que seja um reaparecer depois de tanto tempo ausente. Meu trabalho ainda existe, ainda perdura, claro, mas quero ter novidades e não me desconectar 100% da cena.
Estar aqui é, por enquanto, temporário. Eu “sei” que vamos voltar. Se eu for embora dos EUA em dois, quatro ou sei lá quantos anos, tudo que eu tiver construído aqui é muito válido. Além disso, não preciso morar nos EUA para existir aqui como artista (não é fácil de qualquer forma), mas ter uma presença e relações construídas presencialmente é muito interessante. Sem contar que… eu simplesmente não quero ficar parado esperando.
Talvez todas essas preocupações sejam exagero. Talvez seja só continuar a criar, produzir e mostrar. Existir em dois universos simultaneamente é possível com a internet, empenho e algumas viagens de avião. Mas isso tudo alugou um triplex na minha cabeça desde o começo da vida aqui, isso é fato. Por um tempo eu não sabia o que fazer, até porque o tempo aqui era relativamente curto (um ano e meio, depois aumentou) e eu já tinha projetos em andamento pra me manter ocupado…
O mais importante é que eu decidi publicar nos EUA, em inglês. É um começo que traz ecos de quando comecei a publicar no Brasil, 20 anos antes. São HQs que já tinham saído no Brasil e que eu sabia que eram uma boa amostra do meu trabalho solo (ou seja, escrito e ilustrado por mim e que eu tenha total controle editorial e autoral). Assim vieram ao mundo Vincent in Pieces e Teardrop. A recepção tem sido bem boa, ainda que meu alcance seja muito pequeno. O importante é começar de algum lugar para existir, e isso já aconteceu.


Uma outra questão muito interessante é de que a obra nunca muda. O autor, sim. O momento, os leitores, o contexto do mundo, sim, tudo isso muda com o tempo. E cada encontro com uma obra parece novo se essas mudanças aconteceram, porque são novos filtros colocados para se olhar algo que não mudou em absolutamente nada. Eu sinto isso como leitor e como autor, quando revisito minhas HQs anteriores. Por isso é preciso não só traduzir e publicar a mesma HQ velha, mas refletir se hoje ela ainda é coerente com o que eu quero expressar, se a arte é adequada ao trabalho atual, se é relevante para o momento. No final das contas, não pode ser só uma questão de afeto. É uma experiência editorial, um risco assumido, um sonho e uma promessa, fiel ao que eu sempre propus pra minha carreira.
Agora, sim. Vamos começar, mas não do começo.
— Continua na próxima edição —
COMICS BOOKS FROM BRAZIL RETURNS
Então, finalmente voltei a trabalhar nos meus vídeos. O canal do YouTube ficou parado por muito tempo em 2024 por causa da quantidade de trabalho que tive, mas quero retomar a produção, ainda que em ritmo moderado, para 2025.
E o primeiro vídeo da lista é a palestra sobre quadrinhos brasileiros, com um enfoque social, econômico, artístico e político, que dei na disciplina Latin America Today, que a Monica leciona no semestre de primavera na Stony Brook University (eu já falei o quanto a Monica é foda e o quanto eu admiro ela?).
Bom, eu já tinha dado uma palestra nessa aula em 2023, mas foi menos aprofundada, eu acho. Dá pra assistir a de 2023 no meu canal AQUI.
Assim que a nova estiver no ar, eu te aviso! A previsão é publicar no Dia do Quadrinho Nacional: 30 de janeiro, mas você vai ver antes através dessa Newsletter!
Editar vídeo dá MUITO trabalho.
NOVOS VELHOS HERÓIS, VELHOS NOVOS VILÕES
ROBERT RAUSCHENBERG
Talisman, 1958
Quando estava na universidade, tive que apresentar um seminário sobre Rauschenberg. Eu nunca tinha ouvi falar dele e achei tudo muito feio, estranho e superestimado. Passei por cima de todo meu preconceito e fiz o trabalho. No processo, entendi um pouco mais sobre sua obra e sua personalidade (não lembro de nada agora), e depois disso, raramente pensei sobre o artista ou sua obra. Acho que vi alguma coisa deke em museus daqui, mas nada que me fizesse parar e refletir.
Dia desses, apareceu essa obra no feed de uma das redes sociais. Mais de 15 anos depois, minha reação foi totalmente diferente. Ver uma obra dessas, hoje, gera muito mais reações do que naquela época. É toda uma vida a mais nesse intervalo, novos repertórios, vivências, experiências. Tem algo aí que me lembra Dave McKean, e na hora lembrei da capa da primeira edição de Sandman, que já é incrível e fica melhor se você vê como ela foi feita de verdade. Certamente tem uma imensa influência de Rauschenberg. Eu só precisava de tempo e vivência pra entender.
A Capa:
O Original: é uma caixona cheia de intervenções com colagens, objetos, desenho, folhas secas…
Em tempo: Infelizmente, falar de Sandman hoje é muito incômodo. Essa semana, uma matéria da Vulture trouxe mais informações e revelações sobre o caso das acusações contra o roteirista da série, Neil Gaiman. O assunto é sério e pesado, coisas que os fãs jamais esperariam daquele autor. Hoje a gente sabe que sua persona pública era só mais uma construção que escondia um monstro. Eu estou decepcionado e espero que ele seja devidamente punido.
DA PRANCHETA
Desenho (e colagem) dessa semana:
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA