Oi! Estamos de volta! Esse pique novo tem sido interessante. Antes, eu escrevia a carta meio que quando dava, mas com uma periodicidade semanal, as coisas estão se encaixando bem. Ultimamente, estou me achando bem produtivo, fazendo várias coisas diferentes em sessões menores. Ou seja, em vez de ficar a tarde toda editando um vídeo ou fazendo arte-final, faço uma sessão de 2 horas de arte-final, editor vídeo por 1 hora, escrevo por meia hora, estudo italiano por 15 minutos.
Essa semana e a anterior foram salpicadas de sessões de trabalho (e retrabalho) no projeto INKS. Estamos na fase em que o livro, que está “pronto”, foi revisado pelo editorial e voltou com vários ajustes, muitos dos quais eu fiz pra otimizar o processo. Outros tinham a ver com letreiramento e ajudei como pude. Hoje, estou organizando e subindo os arquivos “finais” dessa fase, e é tanta versão, edição, formato e pastas que dá pra ficar doido. Sorte que eu sou meio doidinho das planilhas e estou conseguindo me manter organizado.
DIÁRIO DA AUSÊNCIA
Parte 3 - A LIÇÃO DA CHUVA
Sobre o que aprendi remexendo no baú de velharias
Uma das vantagens de já ter feito muitas histórias de uma série, é ter muitas opções para escolher. Dentro da linha narrativa da série Pieces, já falei de muitos assuntos e, muitas vezes, alguns temas se conectam.
Quando decidi começar a traduzir e publicar HQ aqui nos EUA, algumas necessidades e ideias pra resolvê-las surgiram. Estabelecer um tema para a edição era uma boa forma de limitar a quantidade de páginas e deixar a edição mais centrada, e a narrativa mais focada. As HQs desta série são geralmente curtas, mas eu queria uma edição de pelo menos 30 a 40 páginas. As duas HQs focadas no personagem Vincent, somadas, dariam certinho e, juntas, são uma narrativa concisa e uma reflexão completa. Em 2023, saiu Vincent in Pieces.
Depois, em 2024, continuando a experiência, lembrei que tenho algumas HQs que têm a ver com chuva. São sobre a chuva, acontecem na chuva ou por causa dela, antes ou depois, a chuva como metáfora… Era bom demais pra deixar passar, e a coleção de HQs que escolhi dariam um bom livrinho de 36 páginas. Redesenhei a HQ “A Chuva”, a mais antiga, porque gosto demais dela e no processo, mexi em algumas coisas. O resultado me agrada demais (e em algum momento vai ter um relato focado justamente nisso - o que acha?). Teardrop foi lançado em 2024.
Essa experiência me mostrou que era possível revitalizar um trabalho antigo, não só quando (e se) redesenha com o estilo atual, mas também por todo o processo de reescrita e ressignificação que invariavelmente acontece.
Normalmente não recomendaria ficar reciclando coisa velha: é sempre melhor fazer algo novo, mesmo que esse “novo” seja “só” reeditar o material. Republicar um material velho poderia ser um demérito pro autor se fosse só isso: republicar sem um processo editorial e/ou artístico, e é praticamente impossível isso não acontecer.
Criar algo novo baseado no melhor que aquele trabalho anterior tem certamente gera algo melhor. Estou vivenciando isso a cada dia que edito Absence.
Então fica a dica pra ter cuidado nesse tipo de escolha e cuidado com o preciosismo vindo do afeto. É bom ter orgulho e guardar com carinho sua produção prévia, mas lembremos que nem tudo que se fez lá atrás era bom só porque você gostou, e nem tudo que foi bom continua bom e adequado depois de um tempo. Todo artista, idealmente, evolui com o tempo e seu trabalho reflete isso. Até quando se recupera algo de antes, como estou fazendo. Não existe esse processo sem o autor atual interferir.
Editar esse material nas duas publicações gringas me fez pensar novamente no recorte editorial por tema e tendo uma boa recepção delas nos eventos, eu já estava doido pra fazer o próximo. Só precisava de um tema. Mas isso você já sabe que eu resolvi.
A ausência de um tema foi resolvida. Com ausência.
—- Continua na próxima edição —-
FALANDO EM QUADRINHOS BRASILEIROS…
“A gente está sempre na luta para furar bolhas.”
Digo Freitas, quadrinista
Saiu essa semana duas matérias do G1 Campinas sobre o Dia do Quadrinho Nacional (30 de janeiro). Ficaram bem legais e tive o prazer de colaborar, conversando com a repórter Isabela Meletti. A reportagem traz também entrevistas com figuras importantes da cena dos quadrinhos de Campinas: Suze Elias, bibliotecária incrível e organizadora da Feira de Quadrinhos da Biblioteca Zink, Ricardo Quintana, meu ex-chefe da Pandora Escola de Arte, Bira Dantas, um dos maiores nomes do desenho de humor, Alexandre Esquitini, editor da campineira editora Mistifório e o grande Digo Freitas, quadrinista engajado e o homenageado da edição deste ano da Feira na biblioteca Zink!
Digo em foto de Estevão Mamédio/g1
É importante que a grande mídia fale do Dia do Quadrinho Nacional (e fale corretamente) para que mais pessoas conheçam esse universo. Como sempre falo, pra quem está dentro desse mundo, sabe que é imenso, diverso e cheio de possibilidades, mas para quem está fora… é minúsculo, se é que existe.
Como eu digo na minha palestra pros gringos sobre a HQBR: “apesar de tudo, a gente continua fazendo”.
SOBRE DAR SEU 100% O TEMPO TODO
Falando no Digo… Dia desses, fui citado por eles numa conversa dele com a Má Matiazzi, sobre a percepção de qualidade do próprio trabalho artístico. Veja aqui a interação e o gráfico que o Digo mostrou ao me citar:
Bom, concordando com ele e sendo o palestrinha que sou, entrei na conversa:
É preciso entender o limite da autocobrança. Ficar cobrando de si um nível que é irreal no momento é muito injusto. Precisa de reflexão, auto avaliação e entender onde você está na jornada, onde quer chegar e como pode fazer pra isso acontecer. Mas estar no começo da jornada (não é o caso da Má, do Digo ou meu, claro) e esperar que seus resultados sejam do nível do Akira Toriyama é absolutamente injusto com você e vai acabar estragando a jornada.
E também, a descoberta de como é positivo entender que mesmo seu 50% pode ser suficiente pra certas coisas. A gente não tem como entregar 100% de nós em tudo que fazemos, uma, porque a cabeça e o corpo não aguentam; e dois, porque nem tudo requer (ou merece) o seu 100%. Se você tem uma boa proficiência, seu 50% muitas vezes é mais que suficiente pra determinadas coisas.
Guarde o seu melhor pro que merece. Nunca deixe de evoluir. Acredite no taco mas sem ego inflado. E pegue mais leve com você mesmo.
DA PRANCHETA
Algumas das coisas que desenhei entre um trabalho e outro, pra distrair a cabeça (quase uma meditação):
Usei esses recortes retos de um envelope, colei no papel e desenhei a moça depois.
Veio na cabeça fazer um rosto onde metade era coberto por um bloco vermelho, e, com, eu fiz. Não precisa pensar demais.
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA