E aí, tudo bem? A cartinha de hoje vem um pouco mais enxuta que as anteriores. Ando ocupado entre a arte-final de Residiuum e de uma HQ para Absence e mais um monte de outras coisas de tamanhos variados que fazem parte do malabarismo constante da vida.
Como nem sempre é possível manter o malabarismo com todas as bolinhas, às vezes o melhor é deixar algumas no chão enquanto você dá conta do que é mais prioritário, e depois, mais tranquilo, pega elas de volta. Tem bolinhas que ficam muito tempo de lado, outras que nunca mais voltarão ao mix do malabares, e tudo bem. Não dá pra fazer tudo. O importante é fazer bem e com foco o que é possível fazer sem ficar doido.
Não ficar doido é importante. Mas hoje eu estou bem mais distante de ficar doido do que estive antes, então tá tudo bem.
Então vamos lá, que tem Diário da Ausência e desenho de jazz.
A ORDEM DOS FATORES ALTERA O PRODUTO
Subverter a matemática em benefício da arte
Uma das primeiras coisas que fiz quando decidi o tema foi folhear meus livros para encontrar as HQs que caberiam nesse recorte. Como disse, muitas das HQs de Pieces lidam com ausência de alguma forma, mas as HQs de Partes do Todo são especificamente sobre isso (e é engraçado que eu só percebi essa relação entre elas anos depois de lançar o livro). Então a maioria delas vai entrar, com exceção de “Líquido”, que por ter muita chuva, saiu em Teardrop, e de “Olhos de Vincent”, por motivos já óbvios.
Dentre as histórias selecionadas para o mix de Absence estão:
Mais uma dose, parte 1
Outro encontro
Narcoléptica e insone
Mais uma dose, parte 2
Essas quatro são um caso especial. Ou todas estão no mix, e nesta ordem, ou só as duas do meio entram. “Mais uma dose, parte 1” funciona sem a parte 2, mas o inverso não. E a parte 2 faz menção não só à parte 1 como às outras duas histórias.
No Brasil, a relação entre essas HQs tem uma relação um pouco complicada. “Outro encontro” foi publicada originalmente em Pieces 1 (2009), enquanto “Narc e Insone” saiu em Pieces 3 (2010). Anos mais tarde, em 2016, as duas partes de “Mais uma dose” foram publicadas em Pieces - Partes do Todo. Como disse, a parte 2 faz menção às duas outras HQs mais antigas, com os personagens aparecendo para conversar com o protagonista, dando a ele insights vindos de suas próprias experiências. Na época, era o que dava para fazer. Quando Parte de Mim saiu em 2021, trazendo as HQs antigas, ficou um pouco mais fácil de indicar essa relação, ainda que as HQs estivessem em volumes diferentes.
“Outro Encontro (redesenhada)” vs. “Mais uma dose, parte 2”
“Narcoléptica e Insone (original)” vs. “Mais uma dose, parte 2”
Em tempo: essa coisa de uma HQ fazer menção ou ser sequência de outra não é comum em Pieces e nem fazia parte da premissa da série. Só que com a maturidade e as HQs mais recentes, e depois, mais ainda, com o livro compilando quase tudo, senti muita vontade de amarrar umas coisas. Esses personagens se encontrando é um bom jeito de costurar as suas histórias e deixar alguns argumentos mais claros.
Mais que amigos, friends.
Então, “Outro encontro” já tinha sido redesenhada em 2021. Agora estou refletindo se deveria redesenhar “”Narcolépitca…”. É mais trabalho, mas me parece necessário. O traço, ainda que eu goste, é antigo. Mesmo esquema de “A Chuva” em Teardrop. Não é ruim, só é antigo. Não acho que é aconselhável publicar algo tão antigo, quando um dos objetivos deste livro é mostrar meu trabalho por aqui. Enquanto eu posso justificar o traço antigo em “Mais uma dose - parte 1”, não sei se funciona pra “Narc”.
Até porque… tem um orelhão na história. O personagem liga pra garota de um orelhão. Essa HQ foi inspirada por fatos de uma época em que algumas pessoas até tinham celular tijolão, mas não era como hoje. Apesar de eu achar o design do orelhão muito legal, localizar temporalmente e culturalmente essa HQ a deixa mais antiga ainda.
Era 2006, after all.
Eu poderia redesenhar o personagem ligando de um celular, mas cuidar para que a estética não fique obviamente diferente. Se não o fizer, preciso lembrar de incluir uma nota em algum lugar pra contextualizar, ainda mais que essa publicação é pro público norte-americano e aqui os telefones públicos não são tão charmosos quanto os nossos. Veja, é mais fácil lidar com uma ligação de telefone público do que com o formato desse telefone.
Acabei decidindo redesenhar tudo. O resultado está ficando bem legal, e assim como em “A Chuva”, algumas mudanças acabam acontecendo. Hoje eu tenho muito mais proficiência em fazer quadrinhos e fazer escolhas conscientes. Talvez dê pra falar mais disso em algum conteúdo futuro, que tal?
2010 vs. 2025, e a diferença que a postura faz no ser humano
Sobre a parte 1 de “Mais uma dose”: pensei em redesenhar, mas como a HQ é mais antiga e a sequência de passa muito tempo depois, achei interessante deixá-la na versão original e apontar isso no prefácio, contextualizando tudo. Acho que pode dar um impacto interessante no contraste entre o passado e o presente (que, na real, já é passado também).
Além dessas HQs, ainda encontro mais algumas que funcionam no mix. São elas:
A Distância
Do Que Fica
A Arte de Ir Embora Sem Sair
Espelho - ou O “Ainda” Entre John e Yoko
Razão
À Espera de Um Milagre (Essa eu não sei se vai entrar)
Agora, a ordem das HQs. Poderia simplesmente colocar uma ordem aleatória e tomar cuidado com as viradas de página, mas esse mix tem algumas condições. A mais importante é que “Mais uma Dose - Parte 2” precisa vir depois de “Outro Encontro” e de “Narcoléptica…”. E a Parte 1, obrigatoriamente, antes dessas três. Mas para que a Parte 2 tenha o impacto necessário, é preciso dar espaço entre essas HQs. Nesse meio vão entrar as outras HQs do mix.
Depois de tudo isso, vai que ainda me bate a vontade de fazer uma HQ inédita… Ainda tem os textos editoriais, as páginas extra… Preciso pensar no espelho.
—- Continua na próxima edição —-
DA PRANCHETA
No último domingo, fomos assistir a uma apresentação de Jazz na nossa Biblioteca. Eu esperava que fosse bacana, talvez um trio de locais, mas não esperava uma banda inteira de músicos fodas: Perfect Pitch Project, com um repertório lindo honrando o mês da História negra. Levei o caderno:
Conheça mais desse super grupo aqui!
CADERNO 66
By the way, o sketchbook acabou de acabar! O 66º, batizado “Stimulus” por causa de um adesivo, começa com uma arte do Mike Mignola, do folheto da exposição dele que vi em NY (maravilhosa, por sinal. Quer ver umas fotos?) e termina com dois desenhos que eu sonhei essa noite.
No sonho, eu pegava esse caderno pra desenhar e via que ele já tinha terminado e tentei reproduzir mais ou menos o que lembro dessas duas últimas páginas. Obviamente, não fica igual e tudo bem: sonho é abstrato demais e a tentativa de reproduzir com fidelidade torna o processo racional demais e perde toda a energia de um desenho feito direto nas canetas, e, pra fechar, o processo sempre traz algo de novo e imprevisível e isso é legal demais. Essas são as páginas sonhadas:
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA