O tempo continua passando e fica cada vez mais perto a data limite de enviar o livro pra gráfica. Inventei de redesenhar uma HQ - o que foi ótimo - e ainda estou trabalhando na capa. Pedi para colegas quadrinistas daqui darem uma olhada no miolo do livro pra ver se tem algo, especialmente no inglês, que pode ser corrigido. Afinal, eu não sou nativo. Estou muito satisfeito com o processo todo e ansioso pro livro estar pronto, entregue e lançado. Como sempre, uma coisa de cada vez.
Estou a três páginas de concluir a arte-final do quarto capítulo do Residiuum. Descobri hoje na reunião do Projeto INKS que o livro vai ser lançado só no começo do ano que vem, o que é chato considerando que a gente está trabalhando nele desde 2023, mas foi uma escolha editorial para potencializar o marketing e se precaver se questões de logística. Esse projeto ficou bem grande.
Tenho valorizado muito os momentos de lazer. Pra mim sempre foram essenciais para não pirar, mas também são importantes para ampliar repertórios. Entre aniversários, despedidas, jogo de basquete, cinema e jogar Zelda, a gente vai criando esse espaço que não é sempre ocupado por trabalho e ainda traz um benefício imenso, na arte e na vida.
Diário da Ausência - Parte 6
OLHANDO NO ESPELHO
O espelho olha de volta pra você
Espelho é o nome dado a um tipo de diagrama onde vemos as páginas do livro em duplas, como se estivessem abertas. Começa com a página 1, sozinha, e é seguida pela 2 à esquerda e 3 à direita, formando uma dupla. Segue assim até a última página, de número par e múltiplo de 4, sozinha. Par, porque ela virá depois de um ímpar, que obrigatoriamente está à direita. E essa relação com o 4 se deve porque toda publicação impressa tem a paginação pensada em múltiplos de 4 (as 4 faces de uma folha dobrada ao meio), ou de 16 (grupo de folhas dobradas que, juntas, formam um caderno). Publicações de até 60 páginas, em média, são encadernadas em lombada canoa, com grampos, em folhas dobradas com 4 faces. De 60 ou mais, costumam ser encadernadas com lombada quadrada, com cadernos de 16 faces.
Gosto de montar um espelho e anotar a quantidade de páginas do livro. Se tem vários elementos, capítulos ou histórias, gosto de usar cores para separar cada elemento. É nesse experimento de tabuleiro que a gente vai testando as peças, vendo onde e como elas se encaixam e se faz sentido. Como disse, já tenho algumas condições para a distribuição dessas HQs, então preciso achar qual a melhor forma de encaixar as restantes.
Este é um rascunho do espelho de Absence:
Um dos pontos importantes de se prestar atenção é a virada de página. Tem momentos na narrativa que precisam ser guardados para quando se vira a página. Essas páginas precisam estar numa posição par, ou seja, à esquerda. Também é preciso prestar atenção em páginas duplas, porque elas obviamente não podem ser separadas (começando numa ímpar e terminando numa par, por exemplo).
Montar o livro no InDesign acaba virando um quebra-cabeça (ha!). Mover as páginas de cada HQ ou capítulo em bloco para definir a ordem delas. Acaba que você fica sem saída às vezes, enquanto define “condições” para o material: colocar uma HQ pra começar na ímpar gera uma página em branco inútil entre uma história e outra. E de vez em quando, um desses problemas acaba sendo uma solução. Um exemplo disso era uma página dupla que “sobrou”. Acabei pensando em colocar uma ilustração bem simples e posicionar bem no meio do livro, pra dar um tipo de “intervalo” entre dois grupos de HQs. E já que faria isso, repensei a ordem das histórias, equilibrando melhor os tons delas e terminando a primeira metade com uma HQ que tem um impacto garantido. A pausa de página dupla serve pra dar um respiro.
Com essa constatação, comecei a ver como conduzir essa sequência de histórias de forma mais consciente e gerando um caminho com mais variações dramáticas. Intencionalmente colocar uma HQ mais leve depois de uma pesada, e por aí vai. Isso só veio porque teve tempo de maturação e problemas a serem resolvidos.
(abrir um parêntese aqui pra indicar a leitura sobre a teoria de processo criativo do Graham Wallas. Tenho pensado muito nela e faz sentido em muitos casos no meu trabalho e no que vejo dos colegas e alunos)
A gente tem controle na hora de determinar as coisas numa publicação, e tudo tem (que ter) um motivo. As coisas não acontecem de forma aleatória e cada escolha gera uma consequência. Quando me toquei disso, o jogo de diagramar esse livro se tornou mais legal ainda.
Algumas páginas serão preenchidas por elementos editoriais. O que eu sempre gosto de fazer é incluir uma folha de rosto, com o título do livro, onde eu posso fazer um desenho e escrever uma dedicatória se o leitor quiser. Também funciona como um tipo de segunda capa, preparando o terreno para a história. Biografia, ficha técnica, prefácio (ou posfácio). Às vezes, páginas de making of, com rascunhos. Ilustrações podem ter um papel estratégico, ocupando um vazio inesperado. E é sempre legal colocar uma mini bio e com informações de contato.
Uai! Coisa nova…?
A ordem das HQs e material editorial, por enquanto, é:
Prefácio
Folha de rosto
Another Shot, part 1
Reason
Disconnect (ilustração)
There you are
Mirror
Saudade
Muse
Remains
Dupla de intervalo
The Art of Parting Without Departing
Narcoleptic and Insomniac
Another Shot, part 2
Notas
Bio e Contatos
4a Capa
Tem um espaço vazio ainda pra resolver. Que apropriado pra essa publicação.
Agora que nós sabemos basicamente todo o miolo do livro, podemos começar a produzir essas páginas e textos e montar de fato o arquivo no InDesign. Esse arquivo precisa ter um tamanho específico, o formato da publicação. E eu ainda não tinha decidido.
— Continua na próxima edição —
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O AINDA
Falando em espelho, uma das HQs de Absence tem esse título, mas eu gosto mesmo é do subtítulo: “O ‘ainda’ entre John e Yoko”. Ela foi feita lá longe, no começo da série, mas eu redesenhei pra Parte de Mim, e é essa versão nova que faz parte do livro novo.
O PALESTRINHA ATACA NOVAMENTE:
E vamos de palestra sobre quadrinhos brasileiros, mais uma vez! Na semana que vem, levo esse tema para uma apresentação na Stony Brook University, a convite do Comic Book Club. É sempre um praazer falar sobre o universo de quadrinhos brazucas pra pessoas que não fazem a menor ideia do escopo que nossa cena tem.
DA PRANCHETA:
Essa semana fomos pra NY na despedida do Thiago, que trabalhou no Consulado Brasileiro e foi o principal contato da Monica no Programa do Leitorado. O Thiago é um cara incrível e foi muito importante pra Mo (e pra mim também) durante esses três anos nos EUA. Levei essa arte, uma experiência de voltar ao papel e tintas (e com essa referência meio anos 50) de presente:
Obrigado por tudo, Thiago! Todo sucesso pra você na próxima jornada!
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA