Ei! Estamos de volta! Enquanto a série sobre a produção de Absence continua semanalmente, o livro de fato já está bem à frente. Inclusive, CHEGOU DA GRÁFICA essa semana! Fiquei muito satisfeito com o resultado (sendo super honesto, ok, fiquei uns 90% satisfeito, mas tem coisinhas que acredito serem visíveis só pra mim ou por quem trabalha na área) e aliviado porque vou poder lançar no evento desse fim de semana, o IC3 (Indie Comic Creator Con)!
Essa semana também teve gravação de vídeo, organização de material e de casa, preparativos pra viagem pro evento e muito desenho novo. Vamos a isso:
Diário da Ausência - Parte 9
QUANDO A INTELIGÊNCIA É ARTIFICIAL
Apesar da ideia ser orgânica
ANTES DE MAIS NADA: Eu sei que falar de IA é complicado, ainda mais sendo um artista. Quero deixar claro que eu sou CONTRA a IA generativa que cria imagens cada vez mais competentes à base de roubar o trabalho de milhões de pessoas (se você não sabe, a IA generativa se alimenta de tudo que existe na internet para ser treinada, inclusive da minha arte, sendo que nem eu nem - acredito - nenhum outro artista lúcido, tenha autorizado ou sequer tenha sido avisado. Eu nutro um incômodo real com todo tipo de IA desde que esse lance começou e mexi no ChatGPT poucas vezes, por curiosidade.
O capítulo a seguir fala sobre como eu recorri ao ChatGPT pra encontrar soluções para uma tradução. Eu poderia contratar um tradutor, claro, mas questão de tempo e orçamento… Enfim. Eu fui ver qual é a desse robô, e confesso que me surpreendi. Em vez de respostas prontas, eu tive uma experiência de conversar com a coisa, recebendo respostas com contexto, argumentos, reflexões. Não foi um “faz pra mim”, foi mais um “me ajude a encontrar possibilidades”. Eu ainda detesto a generativa de imagem, acho que é algo perigoso, complicado em vários termos, errado em tantos outros, mas não vou negar que foi uma experiência interessante… E, bom, resolveu minha questão.
Agora sim:
Conversei com a Monica sobre algumas ideias para esse livro, especificamente sobre as traduções de algumas coisas. Apesar de ser fluente em inglês e ter um vocabulário grande e me virar muito bem, não sou nativo e não conheço todos os termos, gírias, expressões. A intenção de estabelecer sentidos e duplos sentidos, brincar com essas coisas, é muito legal e eu gosto de experimentar com isso no meu trabalho. Alguns títulos de HQs minhas precisam fazer sentido com a história e algumas vezes uma tradução literal não dá conta.
Falamos sobre a questão da HQ “A arte de ir embora sem sair” e como era preciso encontrar termos que facilitassem o entendimento do que eu quero dizer. A Monica, então, sugeriu usar o ChatGPT. Não para pedir uma tradução e pronto (até porque nós dois podemos fazer isso e tem o Google Tradutor), mas esmiuçar a questão, como fiz com ela, e ver se o bicho consegue me dar opções diferentes e, quem sabe, melhores. Eu nem tinha cogitado essa possibilidade porque, sendo sincero, eu nem lembrava que isso existia. Depois, porque eu tenho uma resistência automática à IA enquanto artista. Mas fiquei curioso.
Tentei.
Bom, tivemos uma “conversa” interessante mas do nada o site me pediu um login e eu perdi tudo. Vamos de novo. Dessa vez, fui direto ao ponto, mais sucinto. Já sabendo de possibilidades que eu não gosto ou que não fazem sentido no caso, ajuda muito. Termos como breaking up, vanishing, fading away, abandoning não funcionam.
Apesar de eu ter copiado e guardado a “conversa” toda, acho que não cabe aqui, mas foi absurdo. Em meio a diversas sugestões que eu já sabia que não queria, algumas coisas interessantes apareceram, coisas que eu nem sequer tinha pensado. Estabeleci, por exemplo, que a estrutura tinha que ser “The Art of XXX without YYY”, onde XXX e YYY são verbos ou phrasal verbs que definam o ato desejado, que nesse caso, é o ato de se ausentar emocionalmente de um lugar ou relacionamento sem sair fisicamente do espaço. No original em português, não tem esse perfeição toda, mas eu queria ver se o bicho ia conseguir.
Outra coisa que eu decidi manter é o diálogo da cena: o rapaz diz “Você quer que eu vá embora?”, enquanto a garota responde “Você que sabe. De alguma forma você já foi.” Em inglês, tive a “sorte” de usar o verbo to leave, que significa não só sair fisicamente de um lugar, mas também deixar, soltar e num sentido mais emocional, abandonar um relacionamento. Então ficou: “Do you want me to leave?”; “It’s up to you. In some way, you already did.”
Dramão mesmo. Você me conhece.
E foi no meio dessas, lapidando e refinando as perguntas para ter melhores respostas, que surgiu a versão que eu mais gostei:
“The Art of Parting Without Departing”.
Usar palavras tão parecidas, uma aliteração ainda por cima… E que carregam o significado que eu queria. Talvez leaving ainda seja mais adequado do que parting, e mais uma vez esse indeciso se depara com uma decisão.
Eis o argumento que me deu (traduzi no Google de malandragem):
Sim, "parting" parece mais apropriado neste contexto, especialmente porque carrega um senso de peso emocional e finalidade, que se encaixa na natureza da sua história. "Parting" reflete a tristeza, inevitabilidade e dificuldade de um término, onde emoções estão envolvidas, e muitas vezes há uma sensação persistente de perda.
Por outro lado, "leave" às vezes pode parecer mais casual ou abrupto, especialmente em contextos onde o foco está mais na partida física sem muita reflexão.
Como sua história lida com um término que não é alegre ou libertador, "parting" se alinha melhor com o tom de tristeza, separação e a complexidade emocional da situação.
Que maluquice isso que estamos vivenciando. É claro que tem muito problemas. Claro que eu preferia contratar pessoas competentes, reais, humanas, para resolver essas demandas. Quem sabe mais pra frente. Aqui, em Absence, minha janela de editoração (que incluiu também redesenhar algumas HQs) era muito curta. Foi uma solução para um problema.
Acho que a ideia no geral é incorporar recursos de IA aqui e ali, mas obviamente, não recorrer a ela para criar e desenvolver as coisas. Não quero parecer hipócrita falando mal da IA que gera desenhos e design mas “defendendo” a IA que traduz. Espero não ser cancelado, hehe (nervoso). Eu fiquei realmente impressionado com a experiência e impactado com o que esse tipo de recurso pode causar em todas as áreas de atuação humana. Sinceramente, estou em conflito. Mas resolveu meu problema.
PS.: Eu falo oi, peço por favor, agradeço, coloco interjeições e me despeço do bicho. Por um lado, me sinto mais próximo de uma conversa com uma pessoa, mas também, sei lá, vai que sendo gentil eles me poupam quando a Skynet tomar conta de tudo.
A ESPERADA PRESENÇA DA AUSÊNCIA
O livro novo chegou!!! Logo vai ter um videozinho comentando e mostrando o livro, e você vai ver antes de todo mundo!
FALANDO NO EVENTO…
Na sexta passada rolou uma live no canal dos organizadores do IC3, onde eles convidaram todos os artistas que vão expor no evento, e entrevistaram brevemente um monte deles (de nós!). Eu fiquei na fila todo nervoso (falar em inglês assim costuma me deixar um pouco inseguro) mas foi bem legal. Eu apareço no timestamp 1:52:50, assista neste link! E, claro, se tiver paciência, dá pra conhecer um monte de quadrinistas independentes daqui.
UMA NOVA CAPA PARA UM VELHO AMIGO - E MAIS UMA AULA!
Recentemente, fiz um trabalho de ilustração editorial muito bacana: criar uma nova capa para um dos meus projetos mais antigos. “O Túmulo do Ladrão”, mistério da minha amiga Jana Lauxen, foi uma das minhas primeiras capas de livro, lá em 2012!
Recentemente, a Jana me convidou para elaborar uma nova capa para a nova edição do livro! Segui por outros caminhos criativos, em termos do conceito, e acho que chegamos numa ideia muito boa! Ainda está pra ser lançado enquanto escrevo esta carta, mas assim que estiver disponível eu te aviso. Abaixo, a nova capa (ainda sem o título)! O que você achou?
Aproveitando o processo criativo, gravei uns vídeos. Aqui, neste primeiro, a Jana fala sobre a sinopse do livro e eu falo sobre as inspirações e propostas para a primeira capa e como foi a elaboração da nova versão (que, modéstia à parte, ficou bem legal). Assista em primeira mão aqui ou clicando na imagem:
Aproveitei a energia de falar sobre a produção de capas para gravar uma aula! Neste novo vídeo, ensino como elaborar um arquivo template (ou seja, um padrão que seja ponto de partida para todo projeto com o mesmo formato) para capa, página ou ilustração de livro (e que funcionam também para páginas de quadrinhos!). Conceitos e elementos importantes para a indústria gráfica e editorial, que precisam estar no radar dos ilustradores e designers, como sangra, área viva, resolução, diagramação, estão explicados na aula. Também em primeira mão para você, aqui ou na imagem:
DA PRANCHETA:
Com a estreia da nova temporada (quer dizer, nova série) do Demolidor, rolaram alguns desenhos do nosso amigo Matt. Caramba, como eu gosto desse personagem! A série tá muito boa, também.
Este, em papel preto.
E os outros, direto no sketchbook 67.
Bom, é isso! Nos falamos mais na próxima.
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA