E aí, tudo certinho? Como foi a semana? Tivemos excelentes notícias e outras não tão boas, o mundo tá bem doido e estou evitando um tanto prestar atenção nas coisas que me deixam instável. Estou navegando essa semana que, estranhamente, tá sendo super longa, a ponto de me dar “tempo” pra sentir que eu tinha “tempo demais” e não saber “o que fazer”, várias aspas e tal. Isso é bom?
Acabei fazendo uma lista de tudo que foi vindo na cabeça, coisas que estão entre os espectros do fazer: preciso, quero, deveria, não quero mas tem que, esqueço sempre, só faço quando lembro, etc. É sempre muita coisa. Se eu foco no que é mais direto, imediato, como, por exemplo, arte-final de Residiuum ou um freela de ilustração, fazer almoço, vai bem. Os outros trecos, que ficam boiando no tempo-espaço do porvir, são acessados quando dá. Nem sempre ter tempo significa estar apto a fazer uma dessas coisas.
Essa semana fui doar sangue pela primeira vez na vida, na nossa biblioteca do bairro, que eu adoro. Foi bom. Farei mais vezes. E levei o laptop e o sketchbook pra ver se, enquanto esperava a Monica me buscar, adiantava alguma coisa. Acabou que não fiz nada, só li. E tá bom. Teve momentos nessa emana que eu simplesmente sentei no sofá pra ler coisas atrasadas, um quadrinho meio chato, assistir Invincible e o especial de stand-up novo do Bill Burr, caminhar pela vizinhança ou jogar Zelda.
É preciso lembrar que esses momentos não são tempo desperdiçado. Muito pelo contrário. É disso que surgem coisas novas, não da repetição do que já é.
Diário da Ausência - Parte 11 - INTENÇÕES POTENCIALIZADAS
Como se dirige uma mesma cena 14 anos depois
Quando decidi redesenhar HQs pro livro novo, algo que me assombrava era a quantidade de páginas e o tempo disponível. Além disso, a dúvida, se era realmente necessário. Essa foi fácil de responder: desenho muito velho, ou cai ou refaz. E refazer me levou a uma jornada muito especial, similar ao que tive com “A Chuva”, que redesenhei pra Teardrop. Começou com a dúvida sobre o orelhão e continuou com outras perguntas que ia fazendo à história, aos personagens, a mim mesmo.
Novo vs. Velho
“Narcoléptica e Insone” (publicada originalmente em Pieces #3, 2010) é uma das minhas HQs favoritas da série. Sempre achei que tivesse camadas interessantes em uma narrativa que expõe tão pouco dos personagens e suas relações pregressas. Mas querer é diferente de conseguir, e como a proposta da série é apresentar os momentos e deixar lacunas, cabe aos leitores pensarem sobre elas.
Conforme fui re-rascunhando os thumbnails/layouts (miniaturas das páginas pra estabelecer os quadros, posicionamentos, etc), eu ia tomando decisões que mudavam a arte original, entre expressões faciais, corporais, enquadramentos e palavras, coisas foram mudando e virando algo que eu e, na minha mirde pinião, melhoravam a HQ. A mensagem ficava mais clara, mas não era mais a mensagem original, de tanto tempo atrás, era a mensagem de hoje, também. Não tinha como não atualizar coisas.
Estudos pra página 1 (em uma edição anterior, te mostrei a comparação entre nova e velho dessa página)
Escolhas que parecem simples podem carregar muita coisa. A intenção do artista está lá, e encontrar uma forma de fazer que não seja didática nem hermética depende do conhecimento técnico, poético e da proficiência na execução. Hoje eu tenho, com certeza, muito mais de tudo isso do que 14 anos atrás. E isso se reflete na HQ. Essa
A página acima é um exemplo. Basicamente a narrativa é a mesma (teve cenas que eu realmente não via motivo pra mudar), mas duas escolhas foram feitas. Primeiro, tirar o foco do rapaz. Essa página é dela, só dela. A segunda é mostrar a ação dela voltando pra cama e se virando, e aí estaria, pelo menos na minha intenção, a evolução dessa cena. Ao se virar, ela dá as costas pro rapaz (e ao mundo, de certa forma, porque ao virar ela fica de frente pra uma parede). Além disso, ela se recolhe, se encolhe em si mesma. Fica contra a única fonte de luz do quarto, ou seja, entra de volta nas sombras. Apesar do diálogo ser essencialmente igual, a atuação muda algo no sentido.
Essa coisa do que se expõe e o que se deixa no ar é muito interessante e eu só posso torcer pra que o leitor tenha uma experiência similar à minha intenção, mas se não for, que seja uma experiência real. Tenho uma curiosidade sobre quem leu a versão original e vai ler a versão nov
(…)
Recentemente, estamos assistindo The Bear. Eu já fui fisgado no primeiro episódio. Diria que, apesar do caos absoluto que acontece, eu me interessei demais pelas dinâmicas entre os personagens. Seus relacionamentos e suas vidas anteriores, o que se mostra e o que se esconde, o que é hábito e o que é preciso mudar… E fui percebendo que não é preciso mostrar tudo, explicar demais, que as coisas vão sendo construídas com o que a série entrega. E é muito satisfatório, inclusive por causa do que você não sabe (ainda ou at all).
Em tempo, o episódio 7 da 2a temporada é uma obra-prima em todos os sentidos.
Essas coisas também me fizeram pensar muito nas relações dos meus trabalhos com autobiografia, autoficção, ficção. Mas fica pra próxima.
— Continua na próxima edição —
DESENHO DE PONTA
Então, fiz minha primeira publi internacional! Apesar de gostar de fazer videos com análises de materiais, esse não é o foco do canal e nesse tempo todo, devo ter feito 2 publis de permuta no Brasil. Agora, apresento a você minha primeira parceria com uma empresa gringa, a PENTIPS!
Quando comprei o iPad ano passado, pesquisei também protetores de tela e pontas diferentes pro Pencil Pro. Queria proteger a tela e ver se a experiência de desenhar no iPad poderia ser melhorada. Entrei em contato com algumas marcas para propor uma parceria, e a PenTips foi muito bacana e me enviou quatro produtos! Fiz uma resenha deles - em inglês - e você pode assistir antes de todo mundo:
Apesar de saber que pra quem está no Brasil esse material provavelmente sai caro demais, caso você queira conferir - e comprar -, use o MEU LINK, e na hora de fechar a compra, use o cupom MARIOCAU pra ter 5% de desconto! É pouco mas todo descontinho ajuda, né?
Não trabalho muito no iPad. Na verdade, basicamente só uso pra ler emails, ebooks e ver uns vídeos de vez em quando. Se tenho prazo apertado e estou em trânsito, é uma alternativa pra me manter produzindo enquanto me desloco, mas sendo muito sincero, mesmo usando o Clip Studio com as mesmas configurações que uso no computador, a experiência é sempre meio frustrante. Eu levo o triplo do tempo, pelo menos.
O equipamento em si é espetacular e com certeza é falta de prática (e em certos casos, de “conforto”). Sei que se eu me dedicasse muito mais ao iPad, eu melhoraria muito, mas como a maior parte do tempo eu uso o computador e a Huion…
Enfim, em resumo, gostei demais dos produtos da PenTips e recomendo, mas uso muito pouco, hehe.
FALANDO DO CANAL…
Estamos fazendo aniversário! Esse ano não preparei vídeo pra comemorar, porque pra ser sincero eu esqueci totalmente até agora, quando a agenda do Google me avisou: amanhã, o meu canal do YouTube faz 5 anos!
Até hoje, são 212 vídeos e 45 lives. 4.444 inscritos. Quase 17.000 horas de exibição em mais de 228.000 visualizações. Monetizado há um tempinho, ainda não atingi o valor mínimo pra receber um primeiro pagamento (acredito que estamos na metade disso, mas tanto faz). Sei que não é o que se considera um canal grande, famoso, “de sucesso”, mas tenho a tranquilidade de saber que eu nunca apostei no canal como meu foco principal de trabalho e renda, nunca me rendi à maluquice de estudar algoritmos, minis, títulos, temas, trends, etc. pra chamar atenção. Me apoio na proposta de fazer vídeos quando posso e como posso, com assuntos que me interessam e que julgo serem válidos e construtivos, para quem se interessa pelo que eu faço e tenho a dizer. É nicho mas é honesto. É a Teoria do Food Truck.
A relação entre a energia e tempo que se injeta em algo assim (ainda que, como falei, é pouco ao meu ver) gera, sim, um tipo de frustração quando vejo que o conteúdo tem no geral baixo alcance. E é isso que pode acontecer dadas as circunstâncias de como eu trabalho o canal, claro. Sem muitas novidades aí. Mas é muito, muito legal ver que alguns dos meus vídeos cresceram bem e são referências até hoje nos seus assuntos. É mais uma coisa de lidar com as expectativas e resultados, como tudo na vida.
Enfim, 5 anos. Parece pouco, mas eu penso em tudo que aconteceu no mundo, na vida e no trabalho desde que publiquei o primeiro vídeo, vish, é coisa pra caramba. Vida longa!
DA PRANCHETA:
Página recente, desenhando sem tema e sem expectativas. Começa sem graça (robô no centro) e chega em um lugar interessante (homem com cabeça de vela).
Nunca é tarde pra falar o quanto “Ainda Estou Aqui” é fenomenal. Esse desenho eu fiz uns dias depois de assistir o filme aqui em Port Jefferson. Os resultados dessa semana dos monstros virando réus me fizeram lembrar desse desenho. Anistia, jamais. Perdão, jamais. Esquecer, jamais. Militares no poder, jamais. Ditadura nunca, nunca mais. Nunca.
Bom, é isso! Nos falamos mais na próxima.
Para ler todas as edições anteriores:
ARQUIVO QUEBRA-CABEÇA